terça-feira, janeiro 30, 2007


A thing of beauty is a joy forever.
- Jonh Keats.



Arte é um prazer que perdura.
Ana Luisa Lima


Quem almeja ter uma relação com a arte não pode querer que esta seja fácil. O primeiro encontro ainda que arrebatador traz aquela pequena – humana – insatisfação de não ter apreendido o todo.

Estar diante de uma obra de arte requer humildade. É preciso deter-se. Deixar-se envolver. Ouvi-la. Ainda que nada entenda. É como se apaixonar por alguém à primeira vista. Passado o impacto daquilo que nos fez encantar imediatamente, queremos saber os detalhes que auxilie a conquista.

A necessidade de entender está sempre atrelada à angústia. É, no mínimo, desalentador perceber que não há vestígios de nós mesmos naquela pessoa que nos fez apaixonar. Este não (re)conhecimento dá ao outro a posição de inalcançável. Daí, dois são os caminhos: desistir ou perscrutar.

Quando se trata de arte, sobretudo, Contemporânea, o primeiro caminho é quase sempre o mais percorrido. A estranheza assusta. O que não é usual intimida.

Nenhuma arte é inalcançável. Como também, ela não pode ser completamente absorvida. A obra, objeto, ambiente de arte foram criados para serem percebidos – investigados. Isto requer um comprometimento de quem deseja o encontro. Querer ir em busca do que for necessário para.

Rainer(1) já advertira, certa vez, um jovem poeta de que se escrever lhe era imprescindível, então, que houvesse entrega. Mesmo que fosse preciso apegar-se ao difícil, dolorido, solitário. Quem escolhe namorar a arte – ao perceber que esta lhe é necessária à sobrevivência – pode estar escolhendo se angustiar. Porque nunca chegará a esgotar as formas de compreendê-la. No entanto, haverá o eterno prazer de senti-la, (re)vê-la, sondá-la e, como se fosse a primeira vez, ter um novo motivo pelo qual se apaixonar.



A beleza é a verdade, a verdade a beleza.
- É tudo o que há para saber, e nada mais.
(Keats, John - Ode sobre uma urna grega)



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(1) Rainer, Rilke Maria."Cartas a um jovem poeta", tradução de Paulo Rónai, Editora Globo – Rio de Janeiro, 1995.