tag:blogger.com,1999:blog-340388512024-03-12T22:52:04.560-03:00Revista Tatuí de Crítica de Arte.Unknownnoreply@blogger.comBlogger25125tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-40198046810223471052010-02-07T09:33:00.003-03:002010-02-07T09:39:18.720-03:00Casa nova:Conheça nossa revista online e tenha acesso a todos os conteúdos dos números impressos: <a href="http://www.revistatatui.com/">http://www.revistatatui.com/</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-8788978726694182532007-09-15T10:13:00.000-03:002007-09-15T10:32:37.281-03:00Por uma poética da resistência - sobre a série Inimigos de Gil Vicente -<div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Maria do Carmo Nino</span></div><span style="font-family:trebuchet ms;"><div align="right"><br /><em><span style="font-size:85%;"><br /></span></em><em><span style="font-size:85%;">Quando os amigos se entendem bem entre si, quando as famílias<br />se entendem bem entre si, então acreditamos estar em harmonia.<br />Engano puro, espelho para cotovias.<br />Às vezes sinto que entre dois seres que se quebram a cara<br />com bofetões há muito mais entendimento do que entre os que estão olhando de fora.</span></em><em><br /></em><span style="font-size:85%;">Julio Cortazar , Rayuela.<br /></span></div><span style="font-size:85%;"><div align="right"><br /></span><span style="font-size:85%;"><em>“Os artistas são os benfeitores da humanidade”<br /></em>Fellini, em Ginger e Fred</span><br /></div><div align="justify"><br /><br />A natureza do êxtase estético propiciado pela obra de arte é sobremaneira complexa: trata-se de uma forma de conhecimento que opera inicialmente pelos sentidos para depois atingir a razão. Nossos sentidos se abrem por completo e encontramo-nos perdidos em uma plena floresta de um mundo que nos toma por inteiro, sem que saibamos exatamente porque somos levados pelo sentimento que vivenciamos e, apenas em um momento posterior, tentamos conciliar o que confusamente experimentamos com alguma razão que possa ter despertado em nós este sentimento. E isto se faz por partes, na proporção em que observamos detalhes, em que procuramos o sentido da obra, aquilo que Francis Ponge chamava de >>olhar-na-medida-em-que-falamos-dele <<.</div><div align="justify"><br />Mas o que esperamos de uma obra de arte? Independente da sua natureza literária, pictórica, teatral, cinematográfica ou mesmo musical, guardamos em nosso interior mais recôndito a esperança que ela faça revelar em nós emoções incontidas, alegres ou não, desconfortáveis ou reconfortantes, apaziguadoras, inquietantes, ou mesmo que ela nos propicie uma revelação sobre nossa própria natureza humana que não conhecêssemos ainda, algo que está além dos sentimentos que cotidianamente classificamos como felizes, tristes ou simplesmente melancólicos.<br /><br />Quando me deparei com as obras da série intitulada <em>Inimigos</em> do pintor Gil Vicente, este sentimento tão definitivamente radical e sem apelo foi de rejeição, porém ao refletir sobre o <em>porque</em> desta minha reação, percebi com uma certa surpresa que não conseguia encontrar uma razão suficientemente convincente para mim. </div><div align="justify"><br />Afinal conhecendo e admirando há tempos a trajetória do pintor, a sua persistência em permanecer fiel aos preceitos de uma arte com recursos simples, imune aos efêmeros modismos, a maestria do desenho que só se confirma com o tempo, tudo aparentemente e coerentemente estava lá, então por que esta sensação de não convencimento?</div><div align="justify"><br />Tampouco o conteúdo agressivo do tema da série me assegurava uma razão suficiente, afinal uma das maiores e importantes características da arte é a possibilidade de abordar esteticamente sentimentos que na nossa vida cotidiana rejeitaríamos, ou, para falar simplesmente, <em>dizer belamente o feio</em>. Para prová-lo basta imaginar o quanto dos grandes e magníficos momentos de legado artístico da nossa história cultural devemos às grandes tragédias. </div><div align="justify"><br />Crimes, massacres, injustiça social, assim como o sentimento de impotência causando desesperança, angústia e terrores infindáveis, não são estranhos a nenhum de nós nem na vida, nem na arte. Eu mesma me observo algumas vezes (não tantas vezes quanto gostaria, é verdade) tomada pela emoção diante de filmes, fotografias, histórias, cujo conteúdo estão longe de serem reconfortantes e ainda assim o sentimento paradoxalmente (ou catárticamente) é de uma euforia, é um sentimento que lhe leva para cima. Então, por quê?<br /><br />Por que a patente desorientação do artista diante das agruras da vida culminando com a radicalidade do seu ato não me comove, nem me convence? Por que até mesmo o que poderíamos chamar de coragem ao colocar-se tão claramente em cena na representação desta série de atos insanos, não permite a minha identificação ou meu abraço? </div><div align="justify"><br />Pode ser que, finalmente, eu tenha compreendido o que em mim faz resistência: Gil, eu acredito, não tem como inimigos este papa específico, ou mesmo a atual rainha da Inglaterra, ou ainda o presidente vigente. Penso que a sua rejeição se dá contra as instituições e as convenções do <em>poder</em> no nosso mundo, do qual estas figuras são emblemáticas. E a esse sentimento de não–aceitação ele se entrega e sucumbe. Dá-se por vencido. O seu ato não é heróico, não é nem mesmo um ato de sacrifício, é um ato de desistência.<br /><br />Ao escrever estas palavras, me lembrei do pai-fundador do anarquismo: Henry David Thoreau, que em seu fulgurante e brilhante ensaio prega a desobediência civil: <em>O melhor governo é o que governa menos, ou absolutamente não governa</em>, disse. Que, como o autor, sejamos ou não esperançosos de um dia prescindir de governo, eis algo sobre o qual cada um de nós pode refletir à vontade, mas, independente de onde nos situemos, é preciso resistir e continuar a luta. É preciso procurar contribuir para a formação da consciência histórica do indivíduo ou da nação, de modo que ela possa se dar positivamente. </div><div align="justify"><br />Nas mãos de Ghandi, que se recusou a responder à violência do imperialismo britânico com uma violência oponente e simétrica, longe da resignação, do conformismo ou da passividade que esta ação poderia deixar supor, o texto de Thoreau serviu como libelo para ajudar a manter o equilíbrio sobre o gume da espada, em um profundo trabalho da violência sobre si mesma que foi capaz de conduzir à uma transfiguração do próprio homem ¹ e levar à vitória, embora a luta ainda tenha que continuar, sempre.</div><div align="center"><br />*<br /></span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:78%;">¹ Dadoun, Roger, A Violência, tr. Pilar F.Carvalho, Carmen C. Ferreira, RJ, Difel, (1993) 1998, p.103.</span></div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-44510881280444573282007-09-15T10:02:00.000-03:002007-09-15T10:12:45.248-03:00Arme os malucos, depois discuta que filmes influenciaram suas decisões.<div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Carlos Heitor Barros</span></div><div align="justify"><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span> </div><div align="justify"><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span> </div><div align="justify"><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span> </div><div align="justify"><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Às vezes eu olho para as canetas como um masoquista olha para uma gilete, como que precisando de dor para aliviar. Desejo e repulsa. Penso em outra coisa, tento outro objeto, mas os olhos insistem em esbarrar onde não devem. Mas caem numa armadilha espiralada onde o centro está cada vez mais próximo, até que não possa ser negado. O ponto fixo, mesmo que um ponto cego, no meu caso, uma caneta cortante. </span></div><div align="justify"><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span> </div><div align="justify"><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Já a usei em outras épocas para perfurar-me, até deixar escapar uma líquida e densa poesia. Quente, pulsante, nada mais fazia do que sujar o papel abundantemente, mas me aliviava da pressão. Eu que não podia chorar, deixava meu corpo expurgar suas dores discretamente, ainda que uivando. Solitário quando secreto, amparado quando necessário.</span></div><div align="justify"><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span> </div><div align="justify"><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Já cortei minha pele com ela finamente, de forma a criar um tipo de tatuagem por escarificação. Achava que isso podia ser arte. Achava que isso podia ser interessante. Achava que eu poderia ser interessante. Ou ao menos tentava. Pergunte-me agora e eu posso ter certeza de que eu não fazia idéia do que procurava. Desconfiava disso então, mas não tinha certeza. Não sei se isso ajudaria, no entanto: certeza de não saber o que se quer não ajuda a querer, nem a caminhar. Talvez as absurdas paisagens de sonhos em desenhos confusamente multi-estilisticos nas minhas costas sejam testemunhas dessa tese. </span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /></div></span><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Já matei dezenas também, com essa mesma lâmina de tinta, em confronto próximo e pessoal. Brandindo golpes cheios de raiva de mim mesmo procurando ferir profusa e profundamente quem quer que dividisse o ambiente, debatesse a tragédia, fosse platéia. Brigar com qualquer outro era o suficiente para me manter longe desse incansável inimigo, desse constante eu-nêmesis. Caneta em punho cerrado, o papel quase rasgando sob os signos tão pesados. Alvos não precisam de sentido, eu precisava deles: alvos, sentidos...<br /><br />Vi-me num mundo de semideuses de beleza e estilo. Num mundo que se identifica por relógios de pulso. Num mundo que sugeria tanto, mas me fazia tão pouco. Senti-me compelido a fazer o que esse mundo fazia. Me maquiei, escolhi os melhores ângulos, as roupas, palavras e atitudes certas. Fiz-me personagem como ponte entre o que eu era e o que o mundo desejava. E quando o mundo me desejava eu sabia que tinha vencido um pouco. Mesmo tendo me perdido um pouco. </span></div><div align="justify"><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span> </div><div align="justify"><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Meu problema talvez só fosse gostar de mim. Sem matar ninguém, sem ferir a ninguém. Sem machucados ou dores. Sem machucados ou dores não feriria ninguém, não mataria nem moscas.</span></div><div align="justify"><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span> </div><div align="justify"><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Uma vez li que as palavras separam, enquanto as ações unem. Achei que eram palavras de um mestre de yoga, mas descobri que a frase era creditada a um grupo terrorista basco. </span></div><div align="justify"> </div><div align="justify"></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Só interessa por onde começar se você não tiver começado ainda.</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-21481923496542917512007-09-15T09:55:00.000-03:002007-09-15T09:58:23.993-03:00Desejo eremita<p align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Rodrigo Braga</span></p><p align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><br />Sim! Eu vim agora mesmo do centro da cidade e posso afirmar que o apocalipse já começou! Sinto cheiro de loucura no ar. Tá todo mundo se afogando de angústia, tá todo mundo correndo sem saber onde vai dar. Raiva e vontade de ter motivo pra qualquer coisa acontecer de fato. Essa é a capital do carnaval mais violento a cada ano. Tem o maior galo do mundo. O artista também pôs ereto o maior “peru” do mundo, bem abaixo do umbigo do universo. Orgulho de ser; somente “ser”. Só aqui a tipografia Armorial ainda escreve “cultura”. Não temos horário de verão porque já somos o verão, não é?! Mas levamos em nossos pulsos moles o fuso-anti-horário de tempos arcaicos. Minha cidade é ícone do que tem de maior em linha reta e do que tem de pior também, eu aprendi isso na escola que também me ensinou o maracatu... E o governador já avisou que os soldados do inferno estarão nas ruas aos milhares nessa folia para fazer os adolescentes beberem seus lolós até dissolverem o esôfago, para fraturar muitas canelas subnutridas com seus cacetes duros, para fazer neguinho pular para a morte no maior esgoto a céu aberto do mundo. Nada, menino! Nada que eu quero ver! O Cão Sem Plumas e sarnento agoniza como nunca. Já vou. Sinto uma vontade enorme de me isolar covardemente num paraíso qualquer, enquanto o paraíso existe. A floresta, a caverna: isso é solução pra mim. Vou me mandar para um lugar bem alto e verdinho. Vou trepar na árvore, vou trepar com a terra. Você sabe tanto quanto eu que a humanidade vai aquecer o planeta até que aqueles lindos vegetais cozinhem todos e virem léguas de deserto. Lá é alto, só pode virar deserto. Enquanto isso minha cidade em poucas décadas vai ser tomada por tubarões gigantes e peixinhos desequilibrados da cadeia alimentar. Nenhum prefeito da Veneza de cá vai ter que se preocupar mais com a eterna falta de saneamento, toda a merda já vai estar boiando. Nossa elite com suas bagagens pesadas e vazias de consciência vai lotar os aviões, mas nem todos caberão na Disneylândia. Já a famigerada classe média vai ter que subir o morro e pedir pinico. Mas eu não. Vou estar curtindo o ar fresco. Lá eu vou andar, andar e andar para gastar o suor acumulado por todo esse tempo nas minhas glândulas sebosas! Um dia vou juntar muita grana para comprar aquele quadragésimo quinto andar da Moura Dubeux. Aí serei imperador do meu domínio, e, do alto da minha contradição, poderei praticar a política incorreta que eu quiser com os meus empregados. De lá poderei até avistar as duas faces do Alto do Mandú e, de quebra, ainda escapar do dilúvio. Mas agora não. Agora sou só um cagão! Quero fugir dessa realidade que virtuo todos os dias, desse cheiro de caranguejo morto misturado com cocô que sai das valas do nosso Recife Antigo e nauseia os parcos turistas. Minha cidade, além de gente despejada nas calçadas, também tem o povo mais mal educado da face da terra, que suja, cospe e ejacula a imoralidade de tirar vantagem até nos mínimos detalhes. É uma inteligência empírica e perspicaz, uma incrível capacidade de ser o melhor. E dizem: “eu pago meu IPTU e quero ver aquele lindo batalhão alaranjado varrer a Guararapes nove vezes por dia! Eu jogo fora, sim. Não fui eu que comprei?”. João Grilo quer mais, ainda mais. Ele leva bomba mas também ri da sua cara, Mané! Eu? Eu quero estar bem longe dos toques dos clarins do Momo gorduroso! Isso mesmo, minha gente! Desejo caminhar por sobre as pedras do lindo riachinho enquanto esse povo todo veleja no mar de lama! Vou ficar bem longe dos ruídos dessa cidade. Buzinem. Agora buzinem à vontade, seus bostas!! Sintam-se motoristas felizes ao encherem seus tanques quando o cartel der uma trégua e fizer uma promoção relâmpago. Depois tranquem os cruzamentos, esculachem qualquer regra, pois a CTTU só pega o otário – esse sujeito cada vez mais raro. Qualquer iniciante já aprendeu a regra do jogo: “molhe minha mão aqui e agora, quero meus dez contos do guaraná, aqui sentou pagou, é três paus antecipados, viu??!! Colabore com sua segurança. Co-la-bo-re, entendeu?? Isso agora aqui é meu. Isso aqui não é de mais ninguém.” Sim, a bronca é pesada! Uma mulher degolada a cada semana, a menininha foi deflorada pelo papai. Já naquela outra cidade, o filhinho da mamãe foi esfolado pelas ruas pendurado na charrete dos demônios... Meu Deus, eu bem que sei que também sou culpado! Minha mãe muito politizada me ensinou que eles também são vítimas... os bárbaros também são vítimas apenas por serem dejeto social! Mas meu bem, não tem como escapar se ficar na urbe. A saída é o mato, o mato! Cardinot não explica, mas Alex quer explicar. Esse calor úmido não me deixa mais pensar. Esse mormaço salobro enferruja até meus miolos! A cachoeira vai me fazer bem. Amanhã voltarei de alma lavada e desbotada.</span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-90662007127354450072007-09-15T09:34:00.000-03:002007-09-15T09:52:05.431-03:00Transparências e incandescências num Pátio de São Pedro<div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Clarissa Diniz<br /><br /><br /></span><em><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:78%;">Agradeço a Moacir dos Anjos<br />pela generosidade e contribuição<br />na elaboração deste texto.</span></em></div><em><span style="font-size:78%;"></span></em><div align="right"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><br /><strong>delongadamente</strong></span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Temos, no trabalho A vida [somente no Pátio] modo de usar, de Elida Tessler, uma urgência pelo contexto que, desde a arte moderna, tem se tornado necessário como fonte de sentido para vários trabalhos de arte. Assim, falar desse trabalho de Elida sem referir-me ao contexto no qual ele foi criado (e exibido) me parece difícil, e por isso não me privarei de contextualizar o quanto me for conveniente para que minhas idéias se façam mais claras.</span></div><div align="right"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><strong>transparentemente</strong></span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A transparência da/na obra de Tessler é ambígua e, por isso, curiosa. </span></div><span style="font-family:trebuchet ms;"><div align="justify"><br />No A vida [somente no Pátio] modo de usar não temos a transparência somente nas placas que compõem o trabalho, mas especialmente no discurso da artista, que pode ser lido no texto que o acompanha, o Espécie de Manual, que, ao esclarecer o seu processo de construção, passa a funcionar como uma fonte de sentido para a obra. Ainda assim, a transparência das placas pode ser uma interessante metáfora sobre a relação da obra com as paredes que a “suportam”, deixando que se mostrem, através do trabalho, os preceitos da instituição que o abarca – no caso, o MAMAM no Pátio. </div><div align="justify"><br />Assim, como característica que nos permite ver através e enxergar o que, em princípio, estaria ocultado pelo que está em primeiro plano, a transparência é, inclusive fisicamente, um aspecto naturalmente contextualizante. </div><div align="justify"><br />Contextualizar, aqui, o trabalho da artista, talvez fosse dizer que ele foi criado numa residência de artistas na Itália, quando ela, com sua peculiar compulsão literária, selecionou e imprimiu todos os 1184 advérbios de modo presentes no livro A vida modo de usar, de Georges Perec, colando-os, depois, na parede de seu atelier, à qual acrescentou objetos (ou restos de objetos) do uso cotidiano dos outros artistas que participavam da residência, denominando sua instalação de A vida somente. </div><div align="justify"><br />Continuar contextualizando deve ser explicar que, meses depois, Elida recebeu um convite do MAMAM no Pátio, uma espécie de anexo do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, para participar de uma residência de artistas que tal instituição, que acabara de ser criada, estava inaugurando. Aceito o convite, três meses depois Elida chega a Recife, e, num período de duas semanas, ela desenvolve e instala, na casa do MAMAM no Pátio, o trabalho fruto de sua residência, o A vida [somente no Pátio] modo de usar, no qual ela imprimiu (antes mesmo de chegar), em placas de acrílico, todos os mesmos 1184 advérbios, afixando-os com pregos nas paredes da casa, mas, dessa vez, dispensando os objetos que fizeram parte da instalação na Itália, pois, diz a artista, os objetos já estavam lá, ao redor da casa (uma referência ao Pátio de São Pedro, endereço do local de exposição). Vale ressaltar que, durante essas duas semanas, Elida também ministrou um workshop e realizou alguns encontros-palestras com públicos diversos. </div><div align="justify"><br />Toda a narração do processo de instauração da obra, ainda que monótono, é relevante para seu entendimento e para minha “análise” da residência em questão, pois é justamente o processo – aspecto cada dia mais querido por artistas e estudiosos – que o MAMAM no Pátio pretende estimular, uma vez que, nas palavras de seu diretor, Moacir dos Anjos, ele pretende “ser um espaço institucional de experimentação nas artes visuais e de reflexão crítica sobre os seus desenvolvimentos contemporâneos”. </div><div align="justify"><br />Experimentação, tal como informou a gerente do espaço, Luciana Padilha, seria um termo usado não apenas no sentido do experimentalismo em arte (promover trabalhos experimentais), mas também no sentido da experiência museológica, que vem sendo constantemente exercitada desde que os trabalhos de arte têm se dado através de meios que vão além do habitual poder museológico de conservá-los ou categorizá-los. O MAMAM no Pátio é, portanto, de acordo com seu discurso, uma instituição que pretende colocar-se em risco o tempo todo, ao colocar em risco, por exemplo, o artista que nele reside. </div><div align="justify"><br />Mas que risco é esse? Quais foram os riscos que permearam a recente criação da instituição e sua primeira realização, a residência de artista cuja convidada foi Elida Tessler?</span></div><div align="right"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><strong>incandescentemente</strong></span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Há algumas diferenças de valor entre uma residência de artista e, por exemplo, uma exposição comum, e que, acredito eu, devem ser consideradas, por mais que o resultado de uma residência possa ser uma exposição comum. </span></div><span style="font-family:trebuchet ms;"><div align="justify"><br />Uma residência de artista é uma “exaltação” do próprio artista, uma atitude um tanto romântica em relação a ele, uma vez que, ao se convidar um artista para uma residência, não se está creditando valor a uma obra de arte, mas apostando na produção de um artista como um todo, e principalmente acreditando na sua suposta “genialidade criadora”, já que, quando se dá uma residência, expõe-se um indivíduo a certas circunstâncias, observando-se as suas atitudes e esperando dele uma reação que seja minimamente interessante a uma audiência. Nesse caso, uma obra de arte. </div><div align="justify"><br />Contudo, diferentemente do romantismo, a crença na “genialidade criadora” desse artista não se explica por razões dogmáticas, mas pelo que convencionamos chamar de reputação, bem como através da relação de confiança – recíproca – que se estabelece entre o convidado e o diretor/curador da instituição que o convida. </div><div align="justify"><br />A reputação nada mais é do que uma sucessão de experiências cooperativas dadas entre partes que se confiam mutuamente, e que possuem legitimidade social, levadas a conhecimento público. </div><div align="justify"><br />Assim, no caso de Elida, por exemplo, o que acontece é que Moacir conhecia bem a reputação da artista e nela confiava (isso ocorre porque ambos fazem parte do mesmo abrangente círculo social artístico), o que o deu os precedentes necessários para convidá-la a trabalhar na instituição por ele dirigida. Nas palavras de Moacir: “por gerir, há vários anos, um espaço com um espírito semelhante (Torreão) e ter atividade docente consolidada, Elida Tessler possui um perfil capaz de não somente entender e responder positivamente à proposta do MAMAM no Pátio como também de nos ajudar, através de uma relação franca e crítica, a ajustar o seu modo de funcionamento (...)”. </div><div align="justify"><br />O que seria “responder positivamente”? Que espécies de pré-julgamentos se fazem antes de uma residência de artista que se entende como experimental? Como qualificar (de “positiva”, no caso) uma resposta antes de conhecê-la? </div><div align="justify"><br />Segundo o próprio Moacir, “responder positivamente” seria “apenas partilhar o desejo de implementar um espaço que se quer flexível (...) e não significa, em absoluto, (...), fazer um projeto que, digamos, não constrangesse a instituição”, bem como não significa “temer uma atitude “não-convencional” do artista, mas, inversamente, também não esperar e cobrar a todo custo que o artista assuma tal atitude”.</span></div><div align="right"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><strong>insistentemente</strong></span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Volto ao risco. E volto à transparência. </span></div><span style="font-family:trebuchet ms;"><div align="justify"><br />Vendo através do trabalho de Elida, e percebendo que o seu trabalho não me parece experimental, nem quanto à linguagem nem quanto ao procedimento (voltado às referências duchampianas sem, no entanto, a meu ver, ir além do procedimento artístico por ele já instaurado), procuro entender porque ele está abrigado por uma instituição que se entende como tal. Lembrando-me, inclusive, de já ter visto um trabalho (Palavras-chaves) da artista exposto no MAMAM, numa coletiva “não-experimental” de obras doadas a seu acervo, me esforço por perceber que diferenças há entre esse museu e seu anexo. </div><div align="justify"><br />Por mais que devamos fazer as devidas ressalvas quanto às diferenças entre os trabalhos expostos no MAMAM e no MAMAM no Pátio, a minha intenção é questionar de que experimentação se está falando. </div><div align="justify"><br />Sabemos que há diversos graus de experimentação. Há artistas que passam toda a vida e obra indo de encontro e criando novas convenções, mas há, também, aqueles que são “experimentais” somente em trabalhos pontuais e, às vezes, o sendo somente em relação a sua própria poética. </div><div align="justify"><br />Acredito, contudo, que a experimentação seja uma atitude de não-conformação e de inventividade diante dos padrões da arte, e é essa a noção de experimentalismo/experimentação que tomo como parâmetro para afirmar que a obra de Elida não me parece experimental. </div><div align="justify"><br />Ainda que eu não ouse chamar o MAMAM de tradicional – longe disso, aliás –, sei também que ele não se propõe a ser um reduto da mais “arriscada” arte que se vem fazendo (entendendo como “arriscada” uma arte que supostamente não encontrasse uma abrangente genealogia à qual se filiar, configurando, assim, seu caráter entrópico), mas local para uma reflexão mais tranqüila (e talvez aprofundada) acerca de questões de uma arte contemporânea já relativamente estabelecida, mas que, claro, não perdeu sua vitalidade. O seu anexo, contudo, aposta, de bom tom, na aventura artística. Por que seriam os dois, então, dirigidos e, sobretudo, curados, pela mesma pessoa? Isso não acabaria por, ainda que inconscientemente, assemelhar as linhas curatoriais de ambos? </div><div align="justify"><br />Talvez na intenção de não permitir que essas linhas curatoriais se confundam, o MAMAM no Pátio instituiu um edital que será o responsável pela seleção de quatro dos cinco projetos financiados pela instituição no ano de 2006. </div><div align="justify"><br />A seleção, que será feita por uma comissão formada por três profissionais em arte – um deles o próprio diretor do MAMAM – , basear-se-á, majoritariamente, na trajetória do artista, uma vez que, por ser uma residência, tal seleção não poderia ser feita com base em projetos para o local. Mas eis que as trajetórias nos levam de volta à questão das reputações.... </div><div align="justify"><br />Sabemos, no entanto, que a reputação de alguém só se dá em um círculo social de proximidades, pois é necessário que as pessoas que se legitimam mutuamente se conheçam para que essa legitimação se dê. Sabemos, também, que, se eles já se conhecem, é muito provável que façam parte do mesmo sistema. E, se fazem parte do mesmo sistema, é porque estão de algum modo harmonizados (adaptam-se uns aos outros), sendo essa harmonia uma forma natural e inconsciente de convivência humana, não devendo ser interpretada como um discurso em apologia às “panelinhas” ou qualquer outro tipo de conclusão imediata nesse sentido. </div><div align="justify"><br />No entanto, se estamos buscando a experimentação, algo que ainda não conhecemos, não seria o caso, talvez, de propiciarmos que isso venha de fora do nosso sistema? Não que a experimentação não possa vir de dentro do próprio sistema, mas selecionar artistas via trajetória é, normalmente, selecionar artistas já experientes e, habitualmente, cujas experimentações já foram incorporadas pelo sistema em questão, de forma que eles perdem, de algum modo, sua força entrópica (geralmente, porém não obrigatoriamente, juvenil). Força entrópica essa desprivilegiada quando seu tempo de gestação é de uma ou duas semanas (o tempo da residência oferecida, pelos impedimentos financeiros do sistema político-cultural brasileiro, pelo MAMAM no Pátio)... </div><div align="justify"><br />Essas ambigüidades entre o discurso e as ações da instituição se sintetizam, para mim, no resultado da residência de Elida Tessler. </div><div align="justify"><br />Seu trabalho, que se supõe/supunha experimental, revelou-se “conservador” por não exigir transformações substanciais no trabalho ou nos procedimentos da instituição ou da artista. Se a idéia era que a artista criasse um trabalho a partir do lugar (daí ser uma residência), isso não ocorreu. O que de fato vejo é que um trabalho já realizado e conhecido da artista foi adaptado à residência. Não podemos dizer, então, que é um trabalho inédito, ainda que ele possua algumas diferenças em relação à montagem anterior, realizada na Itália, e eu não ousaria, além disso, dizer que foi feito a partir da residência no Pátio. </div><div align="justify"><br />Algumas das questões acima abordadas são “justificadas” mediante “explicação” no Espécie de Manual da exposição de Elida, texto que, apesar de poder ser considerado como parte da instalação (como um “meta-trabalho”), é, sobretudo, um texto que contextualiza a obra, legitimando-a e a ela agregando valor, o que, em certa medida, seria assumir o papel do curador da mostra que, estranhamente (ou, talvez, experimentalmente), permaneceu em silêncio ao ceder seu habitual espaço de voz à artista. </div><div align="justify"><br />Temos, acredito, uma série de pequenas questões que me fazem duvidar do caráter experimental da exposição de Tessler e do projeto que lhe deu origem. Sinto incoerência entre discurso e atitude no que se refere aos propósitos do MAMAM no Pátio que, tal como o trabalho de Elida, não me parece uma outra instituição, com outros preceitos, mas somente uma adaptação do próprio MAMAM, ou como deixa bem claro o seu nome, um deslocamento do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães para o Pátio de São Pedro: MAMAM no Pátio.<br />Não estaríamos lidando, então, com mesmo MAMAM, só que no Pátio? </div><div align="justify"> </div><div align="right"><br /><br /><span style="font-size:85%;">Moacir dos Anjos, depois de ler este texto, me disse que o MAMAM no Pátio nunca quis ser outra instituição, que nunca quis deixar de ser o MAMAM. Contudo, o deslocamento por ele realizado (da Rua da Aurora para o Pátio de São Pedro) não pretende ser apenas físico, havendo, sim, o “desejo genuíno de instalar um vírus na instituição, que a fragilize e a faça, gradualmente (...), adotar estratégias mais adaptativas em relação à produção contemporânea”.</span></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-83321941242279371932007-07-25T12:08:00.000-03:002007-07-25T12:09:12.417-03:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicQhVDSDbP9atuTus0ByOWrLoGYhdeBGE17w5N0pYXG-OJB4bZLW2EVTS-RtL-vqJfiWXTMVmkhmvURZOqu24Lgkp1BpwB2BkbI2v9uxyrCvaFfe5tLkNrhlGmsGtFGDn_XJXK/s1600-h/bannertatuí.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5091151750133369186" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicQhVDSDbP9atuTus0ByOWrLoGYhdeBGE17w5N0pYXG-OJB4bZLW2EVTS-RtL-vqJfiWXTMVmkhmvURZOqu24Lgkp1BpwB2BkbI2v9uxyrCvaFfe5tLkNrhlGmsGtFGDn_XJXK/s320/bannertatu%C3%AD.jpg" border="0" /></a><br /><div></div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-61538809837388376452007-01-30T21:09:00.000-03:002007-06-10T12:03:42.944-03:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0KPRqYziyKY-3eejlEmpfVe7egvzyKLxKcgbXsOdMQKER2OCXIMI-Mmp_AXwI2pwFtRPsbf0H6ZthMXec52yJGyfYuxMPnteOZVFDdiUvCXuW2f4MfkyLyHmMkOG0JtbQ3-sz/s1600-h/8138659_dde961ed5d.jpg"></a><br /><div align="right"><span style="font-family:trebuchet ms;"><em><strong>A thing of beauty is a joy forever.<br /></strong></em>- Jonh Keats.<br /><br /></span></div><br /><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><strong><span style="font-size:130%;">Arte é um prazer que perdura.</span></strong><br /><span style="font-size:85%;">Ana Luisa Lima</span><br /><br /><br />Quem almeja ter uma relação com a arte não pode querer que esta seja fácil. O primeiro encontro ainda que arrebatador traz aquela pequena – humana – insatisfação de não ter apreendido o todo.<br /><br />Estar diante de uma obra de arte requer humildade. É preciso deter-se. Deixar-se envolver. Ouvi-la. Ainda que nada entenda. É como se apaixonar por alguém à primeira vista. Passado o impacto daquilo que nos fez encantar imediatamente, queremos saber os detalhes que auxilie a conquista.<br /><br />A necessidade de entender está sempre atrelada à angústia. É, no mínimo, desalentador perceber que não há vestígios de nós mesmos naquela pessoa que nos fez apaixonar. Este não (re)conhecimento dá ao outro a posição de inalcançável. Daí, dois são os caminhos: desistir ou perscrutar.<br /><br />Quando se trata de arte, sobretudo, Contemporânea, o primeiro caminho é quase sempre o mais percorrido. A estranheza assusta. O que não é usual intimida.<br /><br />Nenhuma arte é inalcançável. Como também, ela não pode ser completamente absorvida. A obra, objeto, ambiente de arte foram criados para serem percebidos – investigados. Isto requer um comprometimento de quem deseja o encontro. Querer ir em busca do que for necessário para.<br /><br />Rainer<span style="font-size:78%;">(1)</span> já advertira, certa vez, um jovem poeta de que se escrever lhe era imprescindível, então, que houvesse entrega. Mesmo que fosse preciso apegar-se ao difícil, dolorido, solitário. Quem escolhe namorar a arte – ao perceber que esta lhe é necessária à sobrevivência – pode estar escolhendo se angustiar. Porque nunca chegará a esgotar as formas de compreendê-la. No entanto, haverá o eterno prazer de senti-la, (re)vê-la, sondá-la e, como se fosse a primeira vez, ter um novo motivo pelo qual se apaixonar.</span></div><br /><div align="right"><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A beleza é a verdade, a verdade a beleza.<br />- É tudo o que há para saber, e nada mais.<br />(Keats, John - Ode sobre uma urna grega)</span></div><br /><div align="justify"><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">_________________________________________________<br /><span style="font-size:85%;">(1) Rainer, Rilke Maria."Cartas a um jovem poeta", tradução de Paulo Rónai, Editora Globo – Rio de Janeiro, 1995.</span></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-45917204706600383262006-12-04T20:37:00.000-03:002007-06-10T12:04:28.624-03:00<div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:130%;"><strong>O <em>Olinda Arte em Toda Parte</em> e a <em>Corte de Quinta</em></strong></span><br /><span style="font-size:85%;">Clarissa Diniz</span><br /><br /><br />Na última quinta-feira, participando de um debate que, teoricamente, seria acerca da obra de determinado artista, eis que me percebo diante de uma discussão política e estética da arte que, fugindo ao tema inicialmente proposto, então se encontrava a debater sobre o Olinda Arte em Toda Parte.<br /><br />No público, como quase sempre, artistas e estudantes de arte – praticamente todos ligados ao curso de Educação Artística/Artes Plásticas da UFPE e seu mundo de referências da dita arte contemporânea – discutiam o que para mim soava cada vez mais estranho: a validade (ou melhor, o “direito”) do evento empregar, em seu titulo, o termo arte.<br /><br />A questão-chave da conversa se referia a que “tipo de arte” trata o evento, e a acusação mais contundente era aquela que afirmava que do Olinda Arte... não participam artistas, mas artesãos, e que, portanto, o evento estaria “desautorizado” a se auto-intitular artístico.<br /><br />Senti-me diante de uma “corte” de artistas que, julgando-se dotada do poder de conferir o titulo de arte àquilo que reconhecem como tal, acreditavam-se, conseqüentemente, na plena condição de apontar quem teria o direito de “ostentá-lo” – e, de acordo com o juízo deles, certamente os artistas olindenses não o possuíam.<br /><br />Ainda que não o tenham admitido objetivamente, pareceu-me bastante evidente que, para eles, assim como os profissionais que exercem determinada atividade sem a legalização especifica são considerados charlatões (em alguns casos, até mesmo criminosos), também os indivíduos que se denominam artistas (indicando, conseqüentemente, que aquilo que produzem é arte) sem, de acordo com seus pontos-de-vista, verdadeiramente o serem, são charlatões ou, para usar um termo por eles referido, “artistas de Olinda Arte...” – leia-se: oportunistas e comerciais.<br /><br />Recém-saída de uma pesquisa sobre legitimação artística, não pude deixar de perceber, nas opiniões acima referidas, uma genuína conduta de autolegitimação cuja base está na desconsideração do outro. Apesar de, pessoalmente, considerar a maior parte de tal tipo de pensamento antiético e arrogante – além de desnecessariamente competitivo –, o que me interessa é ressaltar o quanto a maioria de nós, profissionais do circuito de arte contemporânea amplamente legitimado por instituições como museus, bienais e governos, sentimo-nos (erroneamente, creio) autorizados a monopolizar a arte – não só ocupando os principais espaços físicos e simbólicos a ela hoje destinados – como, inclusive, ousando reprimir aquilo ou aqueles que, segundo nossa visão, estejam fazendo uso indevido do termo arte.<br /><br />O que claramente estava em jogo no debate da última quinta-feira não era nem mesmo uma discussão qualitativa acerca das obras expostas no evento em questão – o que considero sempre muito saudável – mas uma prepotente atitude de ataque que, em verdade, disfarçava um instinto (quase animal) de defesa que optava pelo cooperativismo como uma estratégia de proteção grupal diante de uma suposta “ameaça externa”.<br /><br />Não sei se apenas por pretensão ou mesmo por ignorância, tal “corte” demonstrava desconhecer que o que legitima algo ou alguém como artístico é um complexo de relações sistêmicas e processuais que, funcionando de forma complementar e enfática, não concentra o veredicto final da condição de arte em um ponto especifico do processo (nem mesmo na famigerada história), não cabendo a eles, portanto, a autoridade de decidir se o Olinda Arte em Toda Parte envolve ou não “arte de verdade”. E mais: ainda que possam duvidar da qualidade de determinados artistas, acredito que os membros da “corte da/de quinta” não podem desdizer a certeza inicial daqueles que se dizem artistas (e produzem algo a que chamam arte), pois, inclusive para eles (os “cortesãos”), o passo primeiro na direção da legitimação artística tem sido um tipo de autoconsciência da condição de sê-lo: “sou artista”.<br /><br />Por mais que possamos criticar a estrutura e a função sócio-cultural-etc. do Olinda Arte..., bem como a qualidade da maior parte dos trabalhos lá apresentados, não concordo com o fácil posicionamento que habitualmente encontramos, no nosso “circuitinho”, acerca dele: o de negá-lo a ponto de negar, também, a sua condição de arte.<br /><br />Acredito que nós, “artistas contemporâneos”, precisamos fazer um uso mais sincero da “pluralidade” por nós tanto pregada, e exercitar, verdadeiramente, a tolerância cultural de que falam vários dos autores que nos têm inspirado. Se criamos uma bienal com o tema como viver juntos, e se buscamos construir nossa representação social através de bienais como essa última de São Paulo, imagino que urge que ao menos respeitemos nossos colegas de profissão, por mais que suas motivações possam nos ser estranhas.<br /><br />Termino este texto na esperança de que, num próximo debate, passemos menos tempo atacando os outros como se, assim, fôssemos garantir nosso espaço, e mais tempo nos dedicando a aprofundar aquilo que, pelo visto, está em nós ainda muito inseguramente posto – a nossa arte. </span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-35457272109647640572006-12-04T20:31:00.000-03:002007-06-10T12:04:47.969-03:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-SMzd37cVBujH4UhRWUtUfGzTdrWR4y75xntAWhSyT8vE6RQidp2iwMT3GMtKAJpLJ8iHdk9ezvy16Qpl78CgQSAH4lXcO1aoPnmMNb47Cmt7vOfAUrpMvtv-EvEodSnzJfzj/s1600-h/art_nadam_listras1_13.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5004818587984943298" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-SMzd37cVBujH4UhRWUtUfGzTdrWR4y75xntAWhSyT8vE6RQidp2iwMT3GMtKAJpLJ8iHdk9ezvy16Qpl78CgQSAH4lXcO1aoPnmMNb47Cmt7vOfAUrpMvtv-EvEodSnzJfzj/s320/art_nadam_listras1_13.jpg" border="0" /></a><br /><div></div><div></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:130%;"><strong>Arte em Toda Parte</strong></span><br /><span style="font-size:85%;">Ana Luisa Lima</span><br /><br /><br />Penso ser inócuo o debate acerca da pertinência do artesanato no <em>Olinda Arte Em Toda Parte</em>. Se alguns não perceberam, a palavra arte tem muitas acepções. Obviamente quando a cidade de Olinda convida todos para ver arte em toda parte, ela está se referindo à arte <em>latu sensu</em>. Essa que abarca todas as manifestações. Essa que o senso comum é capaz de alcançar. Parece-me que muitos ainda se permitem angustiar sobre a <em>low</em> e <em>high</em> arte. Uma discussão inútil quando se trata do evento olindense.<br /><br />Não acredito que os propositores do <em>Olinda Arte...</em> em algum momento pensaram em fazer do evento mais uma espécie de salão - mais uma vitrine exclusiva para arte contemporânea. Penso que o motivo precípuo seria de movimentar a cidade em torno de algo que Olinda é rica: arte; e ponto. Trata-se de juntar todas as tribos. Abrir as portas para que o público conheça e julgue por si só.<br /><br />Sim, há arte para todos os gostos. Mas, há desgosto quando me deparo com essas picuinhas que envolvem o universo da arte, mais especificamente, a pernambucana. Olindenses não querem recifenses por perto. Recifenses querem que em Olinda a maioria dos ateliês seja para arte contemporânea. E onde fica a diversidade?<br /><br />Foi através do <em>Olinda Arte em Toda Parte</em>, há dois anos atrás, que tive o primeiro contato com a obra de Luciano Pinheiro, Guita Charifker, Cavani Rosas, Roberto Lúcio... Como também conheci a primeira versão do Branco do Olho. Suportes tradicionais e propostas contemporâneas coexistindo - uma delícia poder movimentar meus pensamentos ao sabor daquelas proposições tão distintas. Ainda num clima de excitação, dancei coco de roda de umbigada em Guadalupe – coisa que não conhecia. Comprei brincos e pulseiras no bairro do Amparo. Comi tapioca e tomei cerveja no topo da conhecida Ladeira da Sé.<br /><br />Não entendo por que uma arte deva ser excludente da outra. Ou ainda, por que alguns olindenses esbravejam para que casas-ateliês não possam ser alugadas por recifenses e outros que queiram vir. O melhor do <em>Olinda Arte...</em> esse ano foi, sem dúvidas, a presença de trabalhos dos artistas convidados de Santa Teresa - Rio de Janeiro. Não só porque os trabalhos enviados foram muito bons, como foi rica a oportunidade de sentar e conversar com um deles.<br /><br />Nadam Guerra é um jovem que atua na cena da arte carioca com trabalhos em fotografias, performances, vídeos-performances, instalações... Com ele, pude trocar informações de como o seu grupo (Grupo Um) se movimenta. E a exemplo do que acontece com o B.O. o Grupo Um também se reúne para discutir trabalhos e pensar sobre arte. Ele me confessou como pode ser ingrata a posição de escrever criticamente sobre o trabalho de um colega. E ao mesmo tempo, como essa prática pode trazer ganhos quando o colega se abre para (re)pensar sua obra a partir das questões pontuadas.<br /><br />Penso que tudo é ganho quando a diversidade resolve conviver. Críticos, curadores, artistas de todos os lugares e público crescem com esse tipo de oportunidade. Olinda num evento como esse pode ser um catalisador: trocas de idéias, a grata surpresa de ver o que há de novo, de antigo, o tradicional, o contemporâneo, o artesanato, a dança no meio da rua, a cerveja gelada... Entendam: quando se trata de <em>Olinda Arte em Toda Parte</em> é vão se angustiar sobre o que é a <em>low</em> e <em>high</em> arte; celebremos o lúdico.<br /><br /><br /><br /><br /><br />¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨<br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:85%;"><strong>Nadam Guerra</strong><br />Foto arquivo: listras_1_13<br />Ótica Abstrata, série listras #13<br />2005<br />Técnica: fotografia digital.</span> </span></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-39600458511186446542006-10-14T23:30:00.000-03:002006-10-14T23:32:22.601-03:00<a href="http://photos1.blogger.com/blogger2/1091/4155/1600/CAOHUT1I.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger2/1091/4155/320/CAOHUT1I.jpg" border="0" /></a><br /><div></div><br /><span style="font-family:courier new;font-size:85%;">Bruno Vilela.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1159391552752558412006-09-27T18:08:00.000-03:002007-06-10T12:05:47.094-03:00<div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:130%;"><strong>Muitas e boas</strong></span><br /><span style="font-size:85%;">Renata Nóbrega</span><br /><br /><br />Se “figurinha repetida não completa álbum”, é indiscutível que “piada repetida, quando bem contada, é sempre de fazer rir”.<br /><br />Foi assim que me senti ao ter acesso aos panfletos do “Humor Terapia”. Lá contavam os “Primeiros Socorros Contra Momentos Desconcertantes – PSCMD”. Não são poucas as ‘tiradas’ engraçadas acerca dos, digamos, ‘híbridos contemporâneos’. Na crista da onda, o ‘deslocamento do sujeito’, o ‘local e o global’, a ‘nebulosa pós-moderna’, dentre outros. São construídos discursos referentes às produções visuais dos nossos dias que, mesmo sob sólidos e fundados pilares de racionalidade e empirismo, é impactante até para ‘iniciados’, os quais não deixam de rir de uma nova velha boa piada bem contada sobre o estranhamento (vocábulo também na crista da tal onda) dos dias em curso.<br /><br />O panfleto, trazendo didáticas ilustrações ‘quadrinescas’, introduzia-se ao transeunte pelos dizeres: “prestará os primeiros socorros aos leigos em artes plásticas, já que essa semana estará acontecendo o SPA, a Semana de Artes Visuais do Recife”.<br /><br />De modo descontraído e despretensioso me chegaram as “instruções” ali trazidas. Dei-me a gargalhar, pois, pela qüinquagésima centésima primeira vez ria de mim mesma, recordando de muitos momentos (passados, presentes e certamente futuros) .<br /><br />Por fim, uma advertência que não poderia ser outra: “O Humor Terapia adverte: Os primeiros socorros são apenas a primeira ajuda a ser dada a vítima. Eles servem para aliviar a dor e estabilizar o estado da pessoa, mas não servem como tratamento ou cura. Se os sintomas persistirem, procurar o artista mais perto de você”.<br /><br />Perfeito! Ainda mais quando a cura certamente viria nos próximos séculos com a pílula “to understand contemporary art”, que, aliás, já existe e, ao menos a que eu conheço, é produção de uma artista contemporânea canadense, cujo nome não recordo. Mas podem perguntar a Moa, ele conhece esse trabalho.</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1159276010150788062006-09-26T10:02:00.000-03:002006-09-26T10:06:50.150-03:00<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/HumorTerapia[1][1].matriz.0.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/HumorTerapia%5B1%5D%5B1%5D.matriz.0.jpg" border="0" /></a><br /><span style="font-family:courier new;font-size:85%;">Rafael Anderson</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1159275601302830802006-09-26T09:57:00.000-03:002006-09-26T10:01:51.583-03:00<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/HumorTerapia[1][1].matriz.A6.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/HumorTerapia%5B1%5D%5B1%5D.matriz.A6.jpg" border="0" /></a><br /><span style="font-family:courier new;font-size:85%;">Elio Borba</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1159275411662879452006-09-26T09:51:00.000-03:002006-09-26T09:56:51.676-03:00<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/HumorTerapia[1][1].matriz.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/HumorTerapia%5B1%5D%5B1%5D.matriz.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:courier new;"><br /><span style="font-size:85%;">Liz França</span></span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1158944204692171602006-09-22T13:45:00.000-03:002007-06-10T12:06:13.591-03:00<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/FLAVIA_PINHEIRO2%20copy.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/FLAVIA_PINHEIRO2%20copy.jpg" border="0" /></a><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><strong><span style="font-size:130%;">Tudo o que é sólido se desmancha no ar</span></strong><br /><span style="font-size:85%;">Ana Luisa Lima</span><br /><br /><br /><br />Pânico: sentimento constante aos que se detinham a observar Flávia Pinheiro.<br /><br />O primeiro movimento: com um pote de vidro em mãos cheio de farinha de trigo, ela fez na Rua da Aurora – em horário de trânsito intenso (carros e ônibus) – uma linha branca de um lado a outro. O segundo movimento: repetiu o trajeto um pouco mais adiante, vindo no sentido inverso.<br /><br />Criou uma passarela em que só ela se sentia segura. Nesse espaço ela fazia sua elegia. Caminhou de lá para cá, primeiro com uma foto em mãos falando algo sobre memória; questionava se aquelas que tinha da infância eram delas de fato, ou se surgiram depois, com as histórias contadas pela mãe. Ela fechou os olhos com as mãos e disse se sentir embaraçada.<br /><br />Foi de lá para cá, de novo. Os carros! Não, ela não os via... Ou se via, não se importava. Ela dançou, importunou os transeuntes, fumou um cigarro. Flávia ia de lá para cá... Corria perigo.<br /><br />Colocou uma camisa azul; queria ser outro ser. Seguia um, tentava. Tirava e botava a camisa... Queria ser outro, e outro, e outro... Não sabia se. Não sabia qual. Atravessou mais uma vez a rua; o ônibus! Ela caiu; pendeu para o lado como se atropelada. Levantou-se, seguiu. Em momentos ela se ria de tudo. Fazia movimentos desconexos. Gritava.<br /><br />E eu acompanhando tudo, numa performance intimista, descontrolava-me. Não sabia se aquilo tratava de uma bela poesia sombria tal qual Baudelaire, ou se era porra-louquice. Uma artista que havia conseguido mergulhar profundamente nessa terrível beleza do efêmero desses tempos ainda ditos pós-modernos ou uma inconseqüente diante do perigo que corria de ser esmagada...<br /><br />Eu fiquei com a poesia. Porque esmagada somos ordinariamente: medos: de violência, de ausência de si mesmo e do outro, de não ter os meios necessários para ser, de não saber o que ser... Extraordinariamente é que a arte sublinha esse livro escrito pelo cotidiano e nos faz notar a beleza do terrível.<br /><br />Pânico: sentimento constante para os que se detiverem a debruçar-se sobre a obra de Flávia Pinheiro. Um algo marcante e efêmero. Um sólido que vai se desmanchar no ar. Mas antes disso, há de deixar seus rastros por um tempo, como a farinha de trigo no asfalto.<br /><br />Ela atravessa a rua mais uma vez. Anda pela calçada que margeia o rio. Mais à frente espera o sinal fechar, atravessa a rua pela faixa de pedestre (o passar dito seguro). Vai embora... Como se nada... </span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1158542723380820222006-09-17T22:21:00.000-03:002007-06-10T12:06:42.897-03:00<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/DSC01497.jpg"><span style="font-family:courier new;"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/DSC01497.jpg" border="0" /></span></a><span style="font-family:courier new;"><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:130%;"><strong>Labor adicto I</strong></span><br /><span style="font-size:85%;">Silvia Paes Barreto</span><br /><br /><br />No início da quente tarde da quarta-feira o artista se aproximou do centro do pátio vestindo terno preto, gravata vermelha, sapatos sociais e óculos. De cabelo molhado e bem penteado, puxava uma mala grande, de cor prata. Certa artificialidade compunha sua imagem. Não sei mais se era o artista ou um seu personagem. Iniciou a performance sacando da mala os objetos que iriam constituir seu ritual. A mala era daquelas cheia de compartimentos. Os objetos estavam cuidadosamente envolvidos em panos e o artista/personagem, metodicamente, alcançava-os e os dispunha sobre esteiras, também saídas da mala, anteriormente desenroladas no chão. Organizou uma espécie de altar, com o retrato de um outro homem também vestido de terno e gravata, um recipiente onde se iriam queimar incensos, e uma bandeja com bule e cuias de cerâmica.<br /><br />Consistia o ritual nas seguintes ações, executadas em gestos obstinados, mas sem afetação, mais ou menos nesta ordem: retirar os sapatos sobre um pequeno tapete fora do limite das esteiras, entrar na área delimitada por elas, flexionar o corpo em frente ao que chamo de altar, sentar sobre os joelhos, acender o incenso, levar as mãos espalmadas ao centro do peito na altura do coração, flexionar o corpo novamente, sempre voltado para o recipiente onde queima, podendo servir-se do líquido do bule. Intercalados a esses momentos de mesuras, o protagonista da ação calçava os sapatos e, munido de giz, demarcava a área em torno, ampliando-a. Depois, retornava pela área contornada até a saída original, recomeçando todo o ritual: sapatos deixados fora, volta às genuflexões.<br /><br />O nome da ação, labor adicto, e a forma como o artista estava vestido, eram índices do mundo do trabalho. As feições orientais, o gestual obstinado e as repetidas nuções, fizeram-me pensar numa dada cultura em que a ética do trabalho combinara-se à alta competitividade capitalista para gerar funcionários exemplares. Contudo, não me satisfez tal literalidade.<br /><br />As esteiras estendidas ao chão, num local em que a área próxima caracteriza-se pela presença ostensiva do comércio popular informal, remeteram-me aos vários e, com freqüência, inusitados meios de subsistência inventados por aqueles que estão à margem de um sistema de produção, que cada vez mais elege como disfuncionais boa parte dos indivíduos aptos ao trabalho.<br /><br />Reforçam essa imagem a inconseqüente recorrência nos atos executados e certa incongruência entre o minucioso ritual preparatório e a ação posterior, fora da esteira. O insistente ritual parece reafirmar os valores que permanecem em nossa cultura associados ao trabalho e ao emprego formal. È fato que ter com que trabalhar significa não somente inserção econômica, mas atende a uma série de outras necessidades, tais como reconhecimento social, sociabilidade, segurança, dignidade.<br /><br />Além disso, o ritmo da ação artística aludia a algo metódico e disciplinado, aparente até na forma como o protagonista desdobrava o lenço e limpava o rosto molhado de suor e voltava a dobrá-lo. Contudo, nem mesmo método e disciplina, quando aplicados à formação profissional, garantem hoje inserção no mercado.<br /><br />Labor adicto fez-me pensar nesse descompasso, nas perspectivas de vida frustradas, nos desejos não recompensados, nos desvarios de uma vida improdutiva. Pode ser que, como é bem certo que tenha ocorrido, essa seja uma visão bastante pessoal, imersiva. Em todo caso, é bem sabido que as intenções do artista não fecham as possibilidades de significação da sua produção.<br /><br />Tanto é assim que, ao final da ação, antes de recolher os pertences, o artista distribuiu folheto com um ideograma e a frase “Obrigado pela atenção”, o que reembaralhou as instâncias da representação e da apresentação.<br /><br /><br /></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1158432400678469562006-09-16T15:44:00.000-03:002006-09-16T15:46:40.680-03:00<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/CAD80ZLH.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/CAD80ZLH.jpg" border="0" /></a><br /><span style="font-family:courier new;font-size:85%;">Bruno Vilela</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1158432160459919332006-09-16T15:39:00.000-03:002007-06-10T12:07:07.266-03:00<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/DSC01369.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/DSC01369.jpg" border="0" /></a><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><strong><span style="font-size:130%;">Maicyra</span></strong><br /><span style="font-size:85%;">Clarissa Diniz</span><br /><br /><br /><br />Algumas delicadezas já nascem escondidas e parecem querer morrer assim. Dói imaginar essa fuga de doçuras; dói a responsabilidade de ter que aguçar nossas sensibilidades todas em busca da captura dessas coisas fugidias...<br /><br />Hoje foi um desses dias que começou com a marca de tal responsabilidade mas que findou com a alegria e o encantamento daqueles que não permitem que lhes escapem delicadezas.<br /><br />Aquela esquisita criatura gramínea – criatura somente a priori – que vi chegar de longe e em relação à qual eu, desde antes, era um tanto desconfiada, foi vindo numa esquisitice tão própria que, já de início, soou-me meiga. Todavia, sua aparente artificialidade me incomodava ainda.<br /><br />Meus resquícios de noções de uma barreira entre o natural e o artificial me deixavam avessa àquilo que eu sabia não ser natural mas que, contudo, apresentava-se como real. A criatura gramínea de andar compassado, de movimento trêmulo e de tez plástica ia de encontro às minhas expectativas de uma arte cada vez mais verdadeira.<br /><br />No entanto, sabia eu também da pluralidade das verdades e, muito mais que isso, sentia necessidade de continuar me permitindo ser conquistada. Então lá veio ela, a criatura, e aos poucos dela me aproximei.<br /><br />Chegando perto, sua artificialidade ia se desfazendo. Mesmo a idéia de personagem criada pela artista – com a qual, pessoalmente, não compartilho – foi-me parecendo cada vez mais natural, e o que antes me incomodava por parecer encenação passou a me comover por soar como pele, como proteção.<br /><br />Por baixo daquela plasticidade era possível ver e acompanhar seu corpo de ser humano. Mais intimamente – e a intimidade é fator crescente e essencial em performances de longa duração –, percebi a calcinha branca ainda com toques infantis por trás da malha plástica que grama simulava.<br /><br />Meus instintos me impulsionaram a aguá-la (ela já nos convidava a isso, pois, deitada no chão de uma quente calçada recifense, ao seu lado pôs um regador), e, aguando-a, dei-me conta do que ocorria: ali eu não regava uma criatura, um personagem, mas sim aquela garota protegida por uma pele de grama plástica. Não restavam, portanto, mais dúvidas de sua verdadeira natureza humana, natureza essa que se deixava revelar por entre os espaços vazios de uma grama que não lhe ocupava o corpo inteiro.<br /><br />A delicadeza da idéia de alguém que se mostra e se protege era o que me faltava. Aguar sua pele tão branca e tão nervosa me fez também sentir-me delicada e materna. Havia uma sinceridade no ar, imaginei.<br /><br />Por mais que eu, que, por minha vez, já tive fortes experiências gramíneas nada artificias, fosse pouco apegada (e creio ainda ser) a vários aspectos da proposição estética daquela Maicyra de Brasília, foi-me inescapável aquele delicado momento.<br /><br />No fundo de meu espírito então atormentado pela tensão pré-menstrual, restou a marca da captura de uma delicadeza que agora não mais me poderá ser fujona, posto que a tenho – para insistir numa contradição moderna – <em>verdadeiramente vivida</em> . E, assim, toda a artificialidade se mostrou natural. Pelo menos até o fim da duração daquele momento – que se perpetua, que se perpetua, e que se faz perpetuar... </span></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1158431327620655852006-09-16T15:23:00.000-03:002007-06-10T12:07:36.416-03:00<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/20060914182103%20copy.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/20060914182103%20copy.jpg" border="0" /></a><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><strong><em>Site specific</em> e interatividade no Western<br /></strong><span style="font-size:85%;">Silvia Paes Barreto</span><br /><br /><br />O prédio da Western foi ocupado por artistas. Fato. Porém, essa ocupação ocorreu de formas diversas e, assim, observei em que os espaços diferiam uns dos outros, destacando-se para mim aqueles em que houve uma singular criação.<br /><br />A própria tomada de um prédio em desuso é uma ação de intervenção urbana coletiva com forte poder de significação, no sentido de que impõe ao debate público questões acerca dos usos e padrões de ocupação do solo, fazendo-nos pensar em formas mais duradouras de recuperação da vitalidade daquela área, para além do incipiente embelezamento superficial das fachadas. Chamar a atenção para uma grande e bela área desocupada no centro histórico da cidade trouxe, ao menos para mim e, espero, aos artistas participantes, um alerta para o amplo espectro de questões culturais, históricas e econômicas que compõe a natureza de uma cidade.<br /><br />A organização do SPA abriu o prédio para que artistas propusessem seus modos de uso. Dentre a maioria que optou por fazê-lo de modo convencional, utilizando os cômodos da edificação para expor o resultado de ações ocorridas fora dali, Marcelo Silveira, Alice Vinagre, bem como Camila Mello e Manuela Eichner, executaram formas mais elaboradas de intervenção.<br /><br />O espaço ocupado por Alice Vinagre prima pela composição formal, criando um diálogo intenso entre as paredes brancas com janelas da sala, e o tapete de carvão e sal grosso, contrastantes, num desenho orgânico. A textura criada no piso reverbera as imperfeições da parede, chamando a atenção para todo o espaço que vibra, numa composição que não poderá ser repetida em outro lugar.<br /><br />Camila Mello e Manuela Eichner, dentre diversas ações, propuseram morar nos cômodos por elas ocupados, durante sua passagem pela cidade. Interferiram nas paredes das salas e na organização ordinária de um local para se estar. Abordaram, mesmo que de modo literal, os modos de uso do espaço pelo artista, mas, de alguma forma, comentaram também aquelas questões citadinas, as possibilidades de uso da edificação, inclusive como moradia.<br /><br />Marcelo Silveira condensou as propostas de intervenção e usufruto do espaço. Inventou uma residência artística em sua sala. Dispôs-se a ir todos os dias ao edifício, incorporando a cada visita novos elementos que trazia com ele ou eram interferência dos visitantes. Uma convidativa rede, que servia mesmo ao descanso, atraía os que estavam por ali. Aquela circunstância particular a que me referi acima encontrou aqui sua melhor tradução. Além do genuíno tensionamento dos elementos arranjados naquele espaço, o propósito interativo __ de se postar à conversa, ao encontro __ tornava irresistível a sua “estação”. Até um “livro-caixa-de-artista” o acompanhava, servindo à curiosidade dos mais próximos. Utilizando alguns dos materiais recorrentes em sua obra, tais quais o couro e o vidro, Marcelo Silveira logrou criar um ambiente em que, além de tornar mais complexa a percepção espacial, oferecia ao visitante a imersão naquele mundo próprio, por entre as suas proposições poéticas. As linhas de couro carregadas de afeto __ a cada uma correspondia um nome escrito na parede __ que atravessavam a sala, morriam no alto e ressurgiam em outra face, ressoavam o que estava sutilmente escrito sobre a parede azulejada: continuar, continuar, continuar...<br /><br />Continuidade e ruptura também nos tubos delgados de vidro, encontrados num refugo, e dispostos transversalmente na sala.<br /><br />Foi nesse ambiente que conheci a história do Sr. Liêdo, que franqueou ao artista o acesso a sua ampla coleção de manuais<span style="font-size:78%;">[1]</span><span style="font-size:78%;">.</span> Marcelo transcreveu, de um manual do começo do século passado, um código de cores que era usado para definir a hora de um encontro às escondidas, por meio de combinação de flores diversas. Um código para viabilizar encontros, bela metáfora às vicissitudes da vida, o contínuo rearranjo das possibilidades, as passagens contíguas e os impedimentos, os acertos e desacertos, o fim e o recomeço, as estações...<br /><br />Em outros ambientes destacaram-se trabalhos de apelo à participação ativa do visitante, dos quais destaco o Neutralidade, do Re:combo. Um grande tabuleiro fixado ao chão (de modo a ser percorrido com o corpo todo) e as regras de um jogo coletivo fixadas na parede, tudo para destacar a ameaça à neutralidade da rede. Esta neutralidade seria “a possibilidade para todos os que têm acesso à rede, de produzir conhecimento e trocar informações livremente em pé de igualdade” e agora estaria ameaçada pelos interesses comerciais das grandes corporações controladoras dos maiores provedores de acesso à Internet. Alertando para o possível fim do potencial democratizador da rede, o Re:combo, coerente com sua proposta de criação coletiva, que assume e tira proveito da porosidade entre as esferas da arte e da política, não teme ser panfletário, disponibilizando inclusive um folheto com informações elucidativas sobre o tema.<br /><br />Certa interatividade em Frontaria, de Júnior Pimenta, alcançou-me nas caixas de ovo coladas pela fachada do prédio. Digo certa interatividade porque um maior número delas, sem dúvida, traria melhores resultados. Em todo caso, valeu pela alternância de cores que, a depender do ponto de visada, variavam, movimentando assim o prédio.<br /><br />Também teve o jogo do “não vale”, como posso explicar... na regrinha do café com leite: meter a mão em latões que, ao invés de lixo de verdade, só pseudo-sujeiras, lixo de mentirinha feito de ráfia colorida... O trabalho Lixo, de Viviane Duarte, realmente não me convenceu.<br /><br />Enfim, teve de tudo, mas o bom mesmo é ter tido!</span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">¨¨¨¨¨¨<br /><span style="font-size:85%;">[1] Manuais de instrução, de qualquer tipo, foram incorporados recentemente à poética do artista.</span></span></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1158430983968074242006-09-16T15:15:00.000-03:002007-06-10T12:08:00.497-03:00<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/DSC01348.1.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/DSC01348.1.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:courier new;"><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:130%;"><strong>Cinema Vertical</strong></span><br /><span style="font-size:85%;">Ana Luisa Lima</span> </span></div><p align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Cinema por se tratar de projeções de vídeos em grande escala. Vertical pela direção e formato retangular longilíneo – quatro imagens postas - uma seguida da outra -, vindas de quatro projetores diversos. O cinema foi projetado na parede de um prédio situado na Conde da Boa Vista, uma das avenidas principais de Recife que leva o subúrbio ao centro e vice-versa.<br /><br />O <em>timeline</em> era composto de vídeos distintos e contínuos. O grupo que idealizou e realizou o projeto afirmou não haver uma preocupação com o diálogo dos vídeos entre si. Mas que em certas ocasiões funcionava como tal. A maioria dos vídeos nos levava a um jogo de imagens abstratas em que se podiam perceber formas, cores, ritmos.<br /><br />O belo espetáculo podia ser visto pelos passantes habituais – também os esporádicos e inéditos - imersos no burburinho daquela parte comercial da cidade; era só permitir-se mudar o olhar – para cima.<br /><br />As quatro projeções se relacionavam aos pares – as duas primeiras: um, e as duas últimas: outro. O par era um recorte de uma mesma imagem – as duas projeções criavam uma imagem contínua – que poderia repetir-se, ou não, no par abaixo.<br /><br />Alguns dos vídeos revelam-nos uma herança clara de Nam June Paik (considerado o pai do vídeo-arte). Cores que dançam, o ritmo. A câmera estática que registra o fluir efêmero de uma bolha de água. O vídeo em que aparece um rapaz de preto fazendo movimento de braços e pernas nos remete à dança contemporânea de Merce Cunningham – que já fez vídeo com Paik.<br /><br />Um dos vídeos assistido com mais entusiasmo foi o que chamei a estética do fogo. O vídeo brincava com inúmeras possibilidades: vibração, cor, freqüência. Mais uma vez foi feito o uso da câmera estática. A primeira parte foi feita com uso do espelho. O reflexo simétrico da chama permitia a criação de imagens orgânicas de beleza singular.<br /><br />Algumas dessas imagens – do fogo - foram manipuladas digitalmente; ora, eram transformadas em mosaicos, ora espirais que vibravam, ora uma pintura fluida azulada. Muitas possibilidades que partiam de uma única realidade: um pouco de algo em combustão.<br /><br />Ainda houve vídeos que revelavam a estética da cidade. Um mostrava a rapidez, o trânsito, os automóveis, a paisagem urbana através de uma imagem colorida e que só dava para perceber silhuetas dessas coisas. Outro brincava com a simetria – outra vez, o espelho - de imagens feitas dos monumentos de cidades que não dava para identificar ao certo de onde eram. Outros vídeos sobre futebol, natureza e jogos de palavras completavam o repertório.<br /><br />O que se pretendia não era uma narrativa, mas tão somente o prazer pleno do olhar. A preocupação era de que tanto os que paravam para assistir como os que passavam apressadamente andando pelas calçadas, e dentro dos ônibus, pudessem fruir daquele cinema inusitado.<br /><br />O (im)previsto: problemas de configuração dos projetores e chuva: a frustração para os idealizadores. O Cinema Vertical<span style="font-size:78%;">[1]</span> não se deu perfeitamente como o grupo havia programado. A configuração como estava alterou a coloração dos vídeos; a chuva danificou um dos projetores e o que era par tornou-se ímpar; modificou a proposta inicial, mas não maculou a beleza do que acontecia.<br /><br />O prazer dos olhos<span style="font-size:78%;">[2]</span></span><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:100%;">. O Cinema Vertical é uma daquelas portas que convidam a qualquer um a adentrar no mundo inimaginável da arte contemporânea – por vezes tão rejeitada e temida. E por ter acontecido no início do SPA – Semana de Artes Visuais do Recife, era um aviso de que muitos outros prazeres estavam por vir.<br /><br /></span></p><p align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">¨¨¨¨¨¨¨</span></p><p align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">[1] O Cinema Vertical é um projeto do grupo TV Primavera.<br />[2] A prazer dos olhos é o título do livro de François Truffaut. Uma coletânea de artigos sobre cinema.</span></p>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1158424647507265102006-09-16T13:20:00.000-03:002007-06-10T12:08:24.368-03:00<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/DSC01340.2.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/DSC01340.2.jpg" border="0" /></a><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:130%;"><strong>121 com 149: o 11 de setembro se refez no ‘Canadá’</strong></span><br /><span style="font-size:85%;">Renata Nóbrega</span><br /><br />Já pensando em desistir do acontecimento que, possivelmente, movimentaria a valer um dos eixos centrais e mais movimentados do Recife – avenida Conde da Boa Vista, nº 149 – resolvo telefonar para saber. Ao telefone, ouvi: – Venha, venha, atrasou e ainda não começaram a rolar as projeções. Pois é, devo confessar que, além do cansaço ordinário de um final de segunda-feira, lembrei que as projeções estavam agendadas para 18:00, daquele dia 11 de setembro de 2006.<br /><br />Com a estimulante notícia, por volta das 19:15min, fiz uso do primeiro retorno que se apresentou – eu estava em outro grande eixo, que liga o centro da cidade à zona norte, na avenida Norte, mais precisamente na metade de sua extensão.<br /><br />Nos 15 minutos que se seguiram, pensei um pouco sobre as minhas expectativas quanto ao que se me aproximava: ‘Cinema Vertical nº 1: Edifício Canadá’. Não restava dúvida de que aquela data em especial remetia a um evento, por assim dizer, cinematográfico e, indiscutivelmente, de abalos verticais. Em todo caso, logo me desliguei dessa idéia. Apesar de ser outro 11 de setembro, cinematográfico e vertical, tomei outras bifurcações digressivas.<br /><br />A excursão mental agora pedia parada a qualquer dos coletivos que faziam o trecho subúrbio-cidade e chegava, antes mesmo de minha matéria, ao ponto de projeção. Antes do telefonema, eu não sabia exatamente em que altura da avenida se daria o evento, mas fui informada que seria quase defronte à agência do Bradesco S/A. Agora perfeitamente localizada, não foi problema para que o meu passeio mental, que tomara um ‘Avenida Norte (Macaxeira)’, pedisse parada nas imediações da Praça Adolfo Cirne – minha velha conhecida – e seguisse ao local do Cinema Vertical, até então imaginário, que ficaria a duas ruas (paralelas) dali... Mas, antes mesmo de pensar um pouco mais quanto às minhas ditas expectativas em relação ao trabalho, as quais certamente restariam atendidas se a verticalidade estivesse para além da simples referência à morfologia do espaço urbano, um susto! O sinal fechou de repente e, à velocidade da luz, eu já estava (matéria e mente) prestes a adentrar na Rua da União, perpendicular à avenida Conde da Boa Vista e também endereço do acesso posterior do MAMAM, onde estacionei.<br /><br />De recepção, uma quase desanimadora e fina garoa, precipitação típica de final de tarde e início de noite na localidade quente e úmida em que vivemos. Os transeuntes, que naquele horário já se deslocam com certa agilidade para alcançarem as paradas de ônibus o mais rápido possível, com o batismo da natureza sobre as suas cabeças, buscavam seus destinos com uma obstinação ainda maior. Enquanto isso, a despeito da chuva, segui calmamente em busca de mais um feito das artes visuais contemporâneas do SPA 2006.<br /><br />Já ao alcançar a “via pública urbana ampla” (para não repetir o vocábulo avenida), deparei-me com quatro telas projetadas na fachada lateral de um edifício, com imagens pouco definidas. Talvez pouco definidas apenas para mim que, não obstante estivesse ali realmente para ver aquele trabalho e, digamos, ‘imergir’, a princípio me pus a procurar os conhecidos que, ao telefone, informaram da existência de uma marquise no prédio ao lado daquele onde estavam as imagens. Cruzei o tráfego e adentrei no edifício nº 121. Subi dois lances de escada e ao chegar no apartamento 103 soube que era preferível assistir a tudo da rua mesmo.<br /><br />Nos segundos que me reconduziram ao espaço público, cá com os meus botões (a menos ou a mais), percebi que eu já estava perdendo o ocorrido e, o que é pior, o ocorrido de lá de baixo, da avenida por onde eu cruzara. De fato, não me importava ali apenas a imagem, pois, concluímos eu e os tais botões, as minhas expectativas se encontravam também e principalmente nas discussões acerca das relações arte/público e arte pública.<br /><br />Posicionei-me sob a marquise oposta e pus-me a ‘imergir’. Aliás, acrescente-se, “Super Útil” era o nome fantasia do estabelecimento comercial de cuja marquise me utilizei.<br />Permaneci por cerca de 40 minutos e me foi quase impossível despertar da imersão. Se de início as imagens pareceram soltas e o qualificador ‘vertical’ ficava restrito ao suporte utilizado na projeção, no desenrolar dos acontecimentos, a multiplicidade sensorial foi apontando alguns dos muitos caminhos.<br /><br />Pessoas que, no dia a dia, estão ali no mesmo horário e, em geral, com a vista embaçada pelo cotidiano, espantavam-se com o ocorrido. De súbito, uma senhora de seus quarenta e poucos expressou o pensamento em voz alta: – Eita, é telão é?!. Um casal de mesma faixa etária revezava entre atender visualmente os sons de ônibus que se aproximavam (no receio, acredito, de perderem sua condução, que vinha do lado contrário ao do cinema) e curtir uma visão do inusitado. Alguém, quando apareceram imagens um tanto incendiárias nas telas, gritou: – Fogo! Fogo!<br /><br />Ao longo do tempo, divertindo-me com esses espantos de quebra do cotidiano daquelas pessoas, fui eu também tomada pelas imagens que, ‘eureca’, tinham um fio condutor, e ele era também vertical. Uma das integrantes do grupo havia esclarecido que as imagens tinham um conteúdo temporal e que este acontecia verticalmente, mas que, por falha do pessoal contratado para projeção, as imagens estavam repartidas em quatro quadros e essa relação de seqüência não estava tão evidente quanto deveria. A partir de então, acompanhei algo que já me era indiciário, mas que só com essa informação se fez para mim conclusivo: imagens em cores que migravam verticalmente de um quadro para outro; espécies de bolhas (de água ou de fumaça) que recebiam como que tiros e, uma a uma, estourava-se em ordem de atingimento; chamas que se espelhavam e se reespelhavam; corpo dançarino, tanto parcelado entre os quadros, quanto em seqüência irreal naqueles mesmos quadros, em movimentos que me remeteram ao ‘break’; uma boneca em chamas. Enfim, até onde pude discernir, hipnotizei-me.<br /><br />Fui despertada por uma prudente observação: – Vamos que a chuva está engrossando.<br />No regresso, não mantive o deambular vagaroso da chegada, mas mesmo correndo de marquise em marquise (todas “Super Úteis”) até alcançar o veículo, às 20:20min., percebi que o prejuízo técnico da execução do projeto (seja pelas telas partidas em quatro, ou pelo ‘pifar’ de um dos projetores) não atingiu a relação obra, público e espaço público. Talvez tivesse evitado a minha imersão-hipnoze, mas eu não o permitiria.<br /><br />A noite recifense do onze de setembro próximo passado verticalizou o cinema e horizontalizou o acesso... E a chuva ainda duraria por um bom tempo...</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1158418778639483762006-09-16T11:53:00.000-03:002007-06-10T12:08:52.547-03:00<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/DSC01229.3.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/DSC01229.3.jpg" border="0" /></a><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><strong><span style="font-size:130%;">muito além de boas risadas</span></strong><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-size:100%;">Clarissa Diniz</span><br /></span><br /><br />Nesse SPA 2006, o Carro da Cerveja de Maurício Castro apresentou a “performance” Gênese da Caipirinha Contemporânea, e representou, no evento, um “tipo” de arte (“tipo” como sinônimo de “modo de ser”) cada vez mais comum, acredito eu, na arte de Pernambuco.<br /><br />Tenho tendido a chamar essa arte de GREA, mas que fique muito claro não se tratar de uma classificação, apenas de um “apelido carinhoso”.<br /><br />A GREA, por si só, já é uma manifestação muito pernambucana. A expressão grea e o verbo grear, que, até onde eu sei, só existem mesmo por aqui, significam mais ou menos um estado de euforia geralmente caracterizado pela reunião de um grupo de pessoas que, em conjunto (de dois, pelo menos), “tiram onda” do mundo e das pessoas através de aguçado senso crítico, muita ironia, espontaneidade, liberdade, gargalhadas e falas homéricas. Muito além de “gozar” com alguma coisa, a grea é um momento de provocação genuíno, ligeiramente despretensioso e costumeiramente inteligente. É um estado criativo por definição, uma vez que é embasado em observação e comentários.<br /><br />Uma arte de GREA não é sinônimo de uma arte lúdica ou de humor – longe disso, aliás –, mas é uma arte que conta, em sua lógica de produção, com características desse modo muito específico de se relacionar com o mundo, que, mais do que engraçado ou divertido, é provocativo. A grea é mesmo uma forma de existir, e há inclusive denominações como greeiro ou pessoa da grea para indicar esses modos de ser.<br /><br />Creio que já há algumas décadas (talvez a partir de 1970), um número sempre crescente de artistas pernambucanos vem desenvolvendo trabalhos de arte inseridos nessa outra lógica de existência, e que, portanto, deve ser vista a partir de seus próprios parâmetros, pois têm, acreditem, seus próprios modelos. Imagino, contudo, que tenha sido o grupo Molusco Lama o maior responsável pela intensificação dessa GREA a que me refiro.<br /><br />Eles, os Moluscos, não só faziam essa arte bem diferente da habitual como também viviam de um modo nada convencional. Como falei acima, uma arte de GREA está diretamente relacionada a um modo de ser. Entretanto, sua arte e seus comportamentos foram tomados como “porra-louquice” e logo foram estereotipadamente julgados, e, ainda que parte de seus instintos artísticos tenham sido mais egóicos do que propriamente estéticos, sua arte não foi observada seriamente, não foi “estudada”.<br /><br />Todavia, não só muitos desses artistas continuam produzindo como foram, com o amadurecimento que é natural a todos, maturando também sua produção. O que hoje vemos é uma arte de GREA cada vez mais rebuscada e repleta de peculiaridades que merecem muita atenção por parte do público e da crítica. Mais adiante, percebo que está surgindo já uma outra geração de artistas que, influenciados pelas ações do Moluscos, da Equipe Daniel & Santiago, do Grupo Submarino, do Grupo Mamãe, entre alguns outros, tomam características como a sagacidade, a capacidade de improviso, o esbanjamento formal, a quase ausência de limites entre arte e vida, a paródia, etc., como parte primeira de seus trabalhos, e lhe dão formas cada vez mais interessantes – e aprofundadas.<br /><br />Precisamos aguçar nossos sentidos para tratar com tal GREA. Peço, e é isso que venho tentando fazer nos últimos tempos, que saibamos relativizar nossos paradigmas de arte, e mais: que nos esforcemos para olhar a GREA a partir dela mesma, a partir de seus paradigmas próprios, sem, portanto, tomar como modelo de análise, para a arte a que me refiro, a produção contemporânea que vem sendo oficializada pelo circuito nacional e internacional de arte.<br /><br />Sei que esse não é um exercício simples. Já percebi que, para flexibilizarmos nossos referenciais, é preciso transformar a nós mesmos, o que talvez signifique, nesse caso, incorporar um pouco do espírito greeiro, mas sei também, por outro lado, que é fácil demais escantear algo por imediatamente o julgarmos “louco”.<br /><br />Não sei como isso se dá com os outros, mas eu, pessoalmente, desconfio de tudo o que, em arte, soa fácil, como também desconfio de tudo o que, numa sociedade, é colocado à margem por ser entendido como “loucura”, ou, para usar a expressão lugar-comum de se ouvir em relação à GREA, como “porra-louquice”.</span></div><div align="justify"><span style="font-family:Courier New;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:Courier New;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:courier new;"><strong></strong></span></div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1158414747907090992006-09-16T10:44:00.000-03:002007-06-10T12:09:18.430-03:00<div align="right"><a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/DSC01241.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/DSC01241.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:trebuchet ms;"><br />Com antecipação sobre o dadá, o futurismo inventou as noitadas provocatórias, as manifestações escandalosas, as bofetadas no gosto público.</span></div><div align="justify"><br /><br /><span style="font-size:130%;"><strong><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O futuro do pretérito<br /></span></strong></span><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">Ana Luisa Lima</span></div><div align="justify"><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Como aquele bichinho que empresta o nome a nossa fanzine, eu queria imergir. Primeiro dia de SPA; eu estava sedenta para...<br /><br />De repente o carro branco; saem de dentro pessoas caricatas – jurei ver um novo episódio do Castelo Rá-Tim-Bum. Vestindo branco nas roupas e nas botas plásticas, pareciam belos e inofensivos palhaços, só não dava para absorver tal idéia porque os semblantes demasiadamente carregados.<br /><br />E depois de preparado todo o cenário em que se daria o parto, uma das personagens aos berros deu a luz frases agressivas sobre instituições, curadores e críticos de arte – tudo num tom de pilhéria. A platéia se ria, e eu me perguntava: – De que ao certo?<br /><br />Daqueles rebentos tidos como verdades, não pude achar graça. São filhos repetidos – e eu à espera dos inauditos. Sei que nem toda arte deve trazer consigo este nunca-dito, inédito, o-que-nunca-se-ouviu-falar. Mas, no mínimo, incomodou-me a ausência de sutileza, de inteligência – mesmo que não rebuscada. Tudo me pareceu ruminado.<br /><br />A partir de uma conversa com Clarissa Diniz – ela tem sempre uma opinião que vale a pena ponderar – revi os passos que eu tinha dado em volta daquele trabalho e me pus a (re)investigar. Será que a inteligência daquela obra era justamente a aparente ausência desta?<br /><br />Pode ser. A sutileza poderia estar nos limões que nasceram depois das frases. A inteligência pode ter sido a caipirinha feita – com os últimos filhos – que entorpeceu os sentidos. Depois do estardalhaço, nada mais se comentava. Foi-se embora com o riso a possibilidade de reflexão. Daí eu posso concordar ser a obra deveras sutil se aquilo tudo tenha sido uma grande graça sobre nossa pobre condição: artistas plásticos que cultuam artistas plásticos sem o mínimo de pensamento reflexivo.<br /><br />É, arte também pode ser isto: o óbvio – e ponha óbvio nisto, vestido de uma forma agradável. É, nada como palhaços. A primeira frase-nascida: <em>instituições jamais serão vanguarda de nada</em>. Ora, ora que bela frase! A maioria se ria e concordava com um balançar de cabeça e um sorriso de sinceridade.<br /><br />As instituições não são e jamais serão vanguarda e isso não é um mal. Do Houaiss temos que instituições são estruturas cujas leis e valores regem a sociedade. Essas tais leis não são criadas pelas instituições, são criadas pelos agentes ativos e passivos e, no caso das instituições culturais, pelo trabalho conjunto entre curadores, críticos, artistas, e público.<br /><br />Instituir é estabelecer novas ordens, novos parâmetros. A instituição é a ordem, a produção artística deve surgir como desordem. É nesse processo entrópico que se dinamiza o universo da arte.<br /><br />Logo de início o pensamento levou-me, ao ver aquela performance, a enxergar o Futurismo. Instituir também é designar (algo ou alguém) como herdeiro... Como artistas plásticos, somos todos herdeiros dos movimentos e reflexões sobre arte que aconteceram no passado.<br /><br />Agredir, a troco de nada, curadores e críticos, não posso chamar de equívoco – eu não tenho a arrogância necessária para. Ou será tão somente covardia minha. O que não posso me furtar de dizer é que apesar de plasticamente muito interessante, o discurso não passou de um mero chover – no molhado.<br /><br />É, eu pretendia imergir, mas. Minhas curtas e magricelas patas de tatuí não puderam... Reclamaram-me: - Raso, raso demais...</span></div><div align="right"><br /><br /><br /><em><span style="font-family:trebuchet ms;">Marinetti arrastava atrás de si barulhentos grupos de garotos reunidos na província, proclamava a cada mudança de estação, com a costumeira abundância verbal, a descoberta de novos gênios nacionais, mas num curto período de tempo ninguém, ou quase ninguém, quis mais dar seriamente atenção a ele.</span></em></div><em><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></em><br /></div><div align="justify"><strong><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></strong></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">¨¨¨¨¨</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">Textos em itálicos foram tirados do livro <em>As Vanguardas Artísticas</em> de <strong>Mario de Micheli</strong>.</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1157764655918978632006-09-08T22:12:00.000-03:002007-06-10T12:10:04.659-03:00<div align="justify"><strong><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:130%;">Glub, glub, glub</span> </span></strong></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><strong><br /></div><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=34038851&postID=115776465591897863#_ftnref1" name="_ftn1"></a></strong><div align="justify"><strong><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></strong></div><div align="justify"><strong><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></strong></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Está certo, tudo bem, admitimos: pode mesmo ter se tornado clichê falar em “imersão” nesses últimos tempos tão pós-modernos. Termos como “contaminação”, “vivências”, entre outros, estão mesmo em voga, e parece que todos andam notando que é impossível ser “imparcial”, “objetivo”, etc.. Mas será mesmo que a crítica de arte, por exemplo, tem, de fato, se abstido de um discurso de tom moralista para se ater a um texto mais cúmplice, ainda que não a-crítico?<span style="font-size:78%;">[2]</span></span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Nós, jovens pessoas de bons corações<span style="font-size:78%;">[3]</span>, nos sabemos também clichês, pós-modernos e portadores de moral, mas, ainda assim, teimamos em tentar inventar novos modos de ser nós mesmos – e isso inclui o nosso lado de críticos de arte.</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Almejando dar uma sacudida em nossa ainda afoita e imatura pulsão crítica, é que fazemos este fanzine, apelando para o nosso corpo para ver se, esgotando-o, chegamos perto de esgotar, também, nossas prévias formatações de pensamento, abrindo espaço para um discurso mais verdadeiro e autêntico. Para concretizar esse esforço (físico, mental e espiritual), nada melhor do que o SPA.</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A idéia é simples: passar o dia inteiro correndo de um lado ao outro em busca dos trabalhos e depoimentos de artistas e outros envolvidos e, em meio a essa correria, refletir.</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Os textos que aqui estão são, portanto, textos cujo distanciamento crítico em relação ao suposto “objeto de análise” tende ao zero, palavras escritas no correr da Semana – algumas ainda durante a realização dos trabalhos. Enfim, uma pretensa crítica de imersão. </span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">Logo, pedimos aos leitores que tomem essa vontade de anular o distanciamento com muito senso crítico, e que sejam também críticos em relação aos nossos discursos. Esperamos que os textos que aqui estão sejam majoritariamente entendidos como de alguém, e não como sendo sobre algo. Todas as frases que aqui se encontram são os produtos primeiros de nossa condição de imersão, estando, a um só tempo, saudável e perigosamente repletas das nossas idiossincrasias. São, além disso, resultados do prazeroso esgotamento que nos tomou após uma semana de um SPA que, felizmente, se torna cada vez menos relaxante.</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Por fim, perdoem-nos a esquisitice do nosso nome – Tatuí –, apelido daquele bichinho que vive imerso no solo, escavacando o que encontra pela frente e sobrevivendo às custas das bolhas de ar derivadas de sua ação de revolver a terra.</span></div><div align="justify"><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">É na ânsia de revolver a nós mesmos que aqui nos colocamos. Esperamos conseguir, sinceramente, produzir as tais bolhas de ar...</span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div><div align="justify"><strong><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></strong></div><div align="justify"><strong><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></strong></div><div align="justify"><strong><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></strong></div><div align="justify"><strong><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></strong></div><div align="justify"><strong><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></strong></div><div align="justify"><strong><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></strong></div><div align="justify"><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /></span><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=34038851&postID=115776465591897863#_ftnref1" name="_ftn1"></a><br /><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=34038851&postID=115776465591897863#_ftnref2" name="_ftn2"></a><span style="font-family:trebuchet ms;">¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨<br /><span style="font-size:85%;">[1] </span></span><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">Pergunta deliberadamente não respondida.<br />[2]</span><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;"> Primeiro (?) juízo moral de nossa crítica, que esperamos, contudo, que não chegue a instaurar um tom moralizante.<br /><br /></span><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1" href="http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=34038851&postID=115776465591897863#_ftnref1" name="_ftn1"></a><span style="font-size:85%;"><br /></span><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2" href="http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=34038851&postID=115776465591897863#_ftnref2" name="_ftn2"></a><br /></div><a title="" style="mso-footnote-id: ftn3" href="http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=34038851&postID=115776465591897863#_ftnref3" name="_ftn3"></a>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34038851.post-1157673533321224022006-09-07T20:57:00.000-03:002007-06-10T12:10:31.187-03:00<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/1600/tatui_logo_imagem2.0.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/4220/1675/320/tatui_logo_imagem2.0.jpg" border="0" /></a><br /><p></p><p><span style="font-family:trebuchet ms;">A <strong><span style="font-size:130%;">Tatuí</span></strong> é feita por:<br /><br /></span></p><p><span style="font-family:trebuchet ms;"><strong>Ana Luisa Lima</strong><br /></span><a href="mailto:analuisalima@hotmail.com"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">analuisalima@hotmail.com</span></a><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><br /></span><strong><span style="font-family:trebuchet ms;">Bruno Vilela<br /></span></strong><a href="mailto:brunovilela@oi.com.br"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">brunovilela@oi.com.br</span></a><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><br /><strong>Clarissa Diniz</strong><br /></span><a href="mailto:vacamococa@hotmail.com"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">vacamococa@hotmail.com</span></a><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><br /></span><strong><span style="font-family:trebuchet ms;">Renata Nóbrega<br /></span></strong><a href="mailto:rcnobrega@yahoo.com"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">rcnobrega@yahoo.com</span></a><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><br /></span><strong><span style="font-family:trebuchet ms;">Silvia Paes Barreto<br /></span></strong><a href="mailto:silviagpb@uol.com.br"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:85%;">silviagpb@uol.com.br</span></a><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><br /></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0