sábado, setembro 16, 2006


Com antecipação sobre o dadá, o futurismo inventou as noitadas provocatórias, as manifestações escandalosas, as bofetadas no gosto público.



O futuro do pretérito
Ana Luisa Lima


Como aquele bichinho que empresta o nome a nossa fanzine, eu queria imergir. Primeiro dia de SPA; eu estava sedenta para...

De repente o carro branco; saem de dentro pessoas caricatas – jurei ver um novo episódio do Castelo Rá-Tim-Bum. Vestindo branco nas roupas e nas botas plásticas, pareciam belos e inofensivos palhaços, só não dava para absorver tal idéia porque os semblantes demasiadamente carregados.

E depois de preparado todo o cenário em que se daria o parto, uma das personagens aos berros deu a luz frases agressivas sobre instituições, curadores e críticos de arte – tudo num tom de pilhéria. A platéia se ria, e eu me perguntava: – De que ao certo?

Daqueles rebentos tidos como verdades, não pude achar graça. São filhos repetidos – e eu à espera dos inauditos. Sei que nem toda arte deve trazer consigo este nunca-dito, inédito, o-que-nunca-se-ouviu-falar. Mas, no mínimo, incomodou-me a ausência de sutileza, de inteligência – mesmo que não rebuscada. Tudo me pareceu ruminado.

A partir de uma conversa com Clarissa Diniz – ela tem sempre uma opinião que vale a pena ponderar – revi os passos que eu tinha dado em volta daquele trabalho e me pus a (re)investigar. Será que a inteligência daquela obra era justamente a aparente ausência desta?

Pode ser. A sutileza poderia estar nos limões que nasceram depois das frases. A inteligência pode ter sido a caipirinha feita – com os últimos filhos – que entorpeceu os sentidos. Depois do estardalhaço, nada mais se comentava. Foi-se embora com o riso a possibilidade de reflexão. Daí eu posso concordar ser a obra deveras sutil se aquilo tudo tenha sido uma grande graça sobre nossa pobre condição: artistas plásticos que cultuam artistas plásticos sem o mínimo de pensamento reflexivo.

É, arte também pode ser isto: o óbvio – e ponha óbvio nisto, vestido de uma forma agradável. É, nada como palhaços. A primeira frase-nascida: instituições jamais serão vanguarda de nada. Ora, ora que bela frase! A maioria se ria e concordava com um balançar de cabeça e um sorriso de sinceridade.

As instituições não são e jamais serão vanguarda e isso não é um mal. Do Houaiss temos que instituições são estruturas cujas leis e valores regem a sociedade. Essas tais leis não são criadas pelas instituições, são criadas pelos agentes ativos e passivos e, no caso das instituições culturais, pelo trabalho conjunto entre curadores, críticos, artistas, e público.

Instituir é estabelecer novas ordens, novos parâmetros. A instituição é a ordem, a produção artística deve surgir como desordem. É nesse processo entrópico que se dinamiza o universo da arte.

Logo de início o pensamento levou-me, ao ver aquela performance, a enxergar o Futurismo. Instituir também é designar (algo ou alguém) como herdeiro... Como artistas plásticos, somos todos herdeiros dos movimentos e reflexões sobre arte que aconteceram no passado.

Agredir, a troco de nada, curadores e críticos, não posso chamar de equívoco – eu não tenho a arrogância necessária para. Ou será tão somente covardia minha. O que não posso me furtar de dizer é que apesar de plasticamente muito interessante, o discurso não passou de um mero chover – no molhado.

É, eu pretendia imergir, mas. Minhas curtas e magricelas patas de tatuí não puderam... Reclamaram-me: - Raso, raso demais...



Marinetti arrastava atrás de si barulhentos grupos de garotos reunidos na província, proclamava a cada mudança de estação, com a costumeira abundância verbal, a descoberta de novos gênios nacionais, mas num curto período de tempo ninguém, ou quase ninguém, quis mais dar seriamente atenção a ele.


¨¨¨¨¨

Textos em itálicos foram tirados do livro As Vanguardas Artísticas de Mario de Micheli.

Nenhum comentário: